A evangelização, um processo que inicia com a proclamação, faz começar um caminho de vida em que são praticados os valores do Evangelho. A mensagem praticada converte-se numa mensagem vivida, num caminho de vida que dá testemunho da Boa nova. As maneiras em que o Evangelho pode traduzir-se na ação cristã são limitadas. As obras de caridade, a luta pela justiça, a promoção dos direitos humanos, a construção da comunidade e os projetos para o desenvolvimento humano são algumas dessas possibilidades.
A consciência de que somos missionários pelo batismo, deixa muito claro que missão é ação generosa, gratuita, que parte de uma motivação interior e, por isso, o missionário e a missionária são movidos, são conduzidos por uma força que nada poderá conter, nem os desafios, resistências, perseguições ou mesmo ameaças como podemos constatar nos escritos do Apóstolo Paulo.
O apóstolo Paulo é quem da melhor forma pode nos ajudar a responder algumas questões tais como: O que Jesus fala sobre a Missão dos seus Discípulos? “Quem” Jesus envia? “A quem Jesus envia? “Para onde” Jesus os envia? Para falar “do que” ele os envia e quais as características que devem ter o missionário?
Como Igreja de Jesus Cristo, somos convidados a construir a comunidade do povo de Deus em todos os lugares, de forma concreta, participando ativamente, na realização do Reino. Uma comunidade que continue o jeito de ser e de relacionar de Jesus, sendo assim uma comunidade solidária e fraterna, na qual tudo se partilha. A adesão de Jesus Cristo é tamanha que as pessoas que dela estão imbuídas, sentem a necessidade de estender a rede. Alcançar sempre mais espaços, chegando aos “confins do mundo” (At 1,8). Foi o que fez Paulo logo após a sua conversão. “Saulo esteve alguns dias com os discípulos em Damasco e, imediatamente, nas sinagogas, começa a proclamar Jesus, afirmando que ele é o Filho de Deus” (At 9,20).
Ser missionário no nosso dia a dia é agir concretamente, participar ativamente, ajudar a transformar a realidade concreta de pessoas, de grupos, de sociedade, anunciando a Boa Nova, antes de tudo pelo testemunho.
Se fizermos uma síntese das cartas paulinas, podemos dizer que Paulo trabalhou as questões humanas muito de perto. Frisando sempre uma vivencia pautada segundo o Espírito, não se deixando levar pelas vontades pessoais, Paulo enfatiza a caridade como dom maior, onde os demais dons não seriam nada sem o amor (1Cor 13). “Deus é amor” (1 Jo 4,16), e viver segundo o Espírito é entrar no mistério do Amor, que é o próprio Deus. É maravilhoso perceber esta ligação de Paulo com Jesus Cristo a ponto de se identificar com o próprio Cristo, quando ele, superando a Lei, convertendo-se radicalmente para entrar numa relação de gratuidade de Deus, alcança a verdadeira liberdade dos filhos de Deus, e exclama: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. Minha vida presente na carne, eu a vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou a si mesmo por mim” (Gl 2,20). Cumprir a missão recebida é um compromisso que ultrapassa todas as formalidades legais de reconhecimento, de remuneração, de direitos. A relação que se instaura é incompreensível para o pensamento humano. O importante é usar a voz para continuar anunciando o evangelho, caminhar para continuar o percurso da missão e atingir maior número de pessoas, doar a própria vida para estar totalmente a serviço da evangelização. “Anunciar o Evangelho não é título de glória para mim; é, antes, uma necessidade que se me impõe. Ai de mim se eu não anunciar o evangelho!” (1Cor 9,16). Um Evangelho pregado fora das estruturas formais e por batizados comprometidos, missionários que se fazem trabalhadores junto dos trabalhadores, que se inculturam pela identificação com o povo. “Trabalhamos de noite e de dia, para não sermos pesados a nenhum de vós. Foi assim que pregamos o evangelho de Deus” (1Ts 2,9). A missão de Jesus recebida do Pai esteve sempre presente nos anseios mais íntimos de cada ser humano, apesar de, na maioria das vezes, ser abafada pela cultura de consumo e de morte. Como Jesus que veio realizar a missão recebida do Pai de anunciar a Boa Nova aos pobres, proclamar a remissão aos presos e aos cegos, a recuperação da vista, para restituir a liberdade dos oprimidos (cf. Lc 4,18-19), pregar e expulsar os demônios (Mc 3,15); assim o missionário e a missionária, assumem hoje a luta que Jesus iniciou, contra tudo o que empobrece a vida do povo. A razão pela qual Jesus veio ao mundo deve estar sempre presente na vida do missionário, da missionária, como realizadores do projeto do Pai: “Eu vim para que tenham a vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Por isso, como consequência, o seu lugar social é sempre onde a vida está ameaçada, por causa do sistema econômico injusto que exclui e marginaliza, empobrecendo o povo cada vez mais, e onde o sistema religioso já não revela o rosto do Pai. Identificando-se com Jesus, o missionário é convidado a ser pobre (Lc 14,33). O esvaziar-se como Jesus, que assumiu a nossa condição humana (Fil 2,7), é o processo pelo qual todo missionário deve passar. Fazendo-se pobre, ele é enviado aos empobrecidos. Somente fazendo a experiência de pobreza junto aos pobres, é que o missionário vai sentir a dureza da pobreza, fruto da injustiça, podendo receber a iluminação e a força necessária para uma caminhada libertadora (cf Ex 3,7-10). O cristão que vive seu compromisso missionário sabe o que deve fazer olhando para o modelo de Jesus, nós que vivemos nosso batismo e nossa vocação vicentina temos um compromisso dobrado junto aos Pobres: evangelizar e servir como Ele fez. O missionário, a missionária, é alguém , portanto, que se converteu como Zaqueu (Lc 19,1-10). Zaqueu vê Jesus e se converte, muda de vida, aderindo às suas exigências. É como a Samaritana (Jo 4,5-52) que, no diálogo com Jesus pede a água viva, e é introduzida no mistério da missão de Jesus e, envolvida pelo Espírito, sai correndo, deixa os seus cântaros e vai anunciar o Messias, que ela acabou de encontrar. É ainda, como Maria Madalena (Jo 20,17) que viu Jesus, e sai correndo para anunciar aos discípulos a ressurreição do Senhor. A missão é universal porque a mensagem de Jesus é universal. Ele revela a todos o rosto do Pai: “Quem vê a mim vê o Pai” (Jo 14,9). Jesus, a revelação do Pai, veio trazer a salvação a todos. E esta salvação deve ser levada, anunciada a todos, até os confins do mundo, para que todos sejam a expressão viva do Pai: “Sede perfeitos, como vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48). O missionário, portanto, deve viver e trabalhar de tal modo, que torne realidade o traço do rosto do Pai escondido dentro de cada um de nós e que precisa ser revelado a todos. Convertido e transformado pelo toque do Espírito, o missionário é movido pela força do Mesmo. Precisamos viver mais nossa vocação, pregar a justiça e o direito. Anunciar a paz, pregando a fraternidade, a solidariedade, o amor e o perdão. Em todas as nossas realidades comunitárias urge um trabalho missionário e, com certeza, a evangelização que promova cristãos comprometidos. “Ide por todo o universo e anunciai a boa nova a todas as criaturas”. Tudo se responde neste envio de Jesus. Ele fala de uma igreja itinerante, formada por seus seguidores, com a missão de ir a todas as criaturas presentes no mundo, revelando-lhes a Boa Nova da mesma forma que fez o Mestre.
pe. Edson Friedrichsen, CM (Revista Unidade, nº 96)
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