A ESTATÍSTICA TEM A ÚLTIMA PALAVRA?
É interessante constatar a “ditadura” dos números. Você é identificado por um número, seja no RG, na Carta de motorista, no CIC, na escola, no leito do hospital... E ainda refém de números, muitas vezes fatídicos: há no mundo 34 milhões de portadores de HIV; em 2012, no Brasil, um milhão de pessoas morrerão pelo câncer; também neste ano morrerão 800.000 pessoas vítimas de acidentes de trânsito; 20% da população brasileira não sabe ler nem escrever; Igreja Católica perdeu, nesta década, um milhão de fiéis; em 2020, os evangélicos, no Brasil, serão a maioria... E por aí vai.
E eu me pergunto: de onde vem tanta certeza? Volto a me recordar da famosa frase de Itamar Franco, ex-governador mineiro e ex-presidente do Brasil: “Os números não mentem, mas os mentirosos fabricam números”. As famosas pesquisas eleitorais (que se transformam em eleitores) instrumentalizam a eleição, direcionando-as a seu bel prazer: “Fulano tem maioria absoluta dos votos”. E aí vem alguém me dizer: “mas a pesquisa acertou”. Claro, digo eu. Ninguém vota para perder. Aí abandona a sua intenção de voto e vota em quem tem suposta maioria.
Quanto a isso, lembro-me de uma história interessante: Naquele tempo em que não havia exame pré-natal e, muito menos, ultra-som, apareceu numa cidadezinha um sujeito que dizia prever o sexo do nascituro. Depois de fazer toda uma encenação, colocando, inclusive, a mão sobre a barriga da mulher grávida, simulava umas orações e, solenemente, proclamava: “ a senhora está grávida de um menino”. Antes da mulher sair, ele colocava na ficha, sem que ela visse, “menina”. E recomendava que a mulher retornasse, logo depois de dar à luz, para dizer o resultado. Quando dava certo, nascera um menino, a mulher parabenizava o “vidente”; quando não, ele dizia: “a senhora é que está equivocada! Vamos consultar a sua ficha!; não disse? Está aqui, menina”. Assim, o espertalhão nunca errava.
A folha de São Paulo preconizava, outro dia, seis milhões de evangélicos na “Marcha para Jesus”. Vai ser precisa assim lá na China! E exagerada também. Seis milhões é a terça arte da população da Grande São Paulo. Assusto-me quando escuto dizer que “a Terra tem bilhões de anos”. Convenhamos, não é tempo demais? De Jesus até aqui são passados dois mil anos. E já é muito! E aí entre a famosa “parada gay” que anuncia a presença de dois milhões de gays na parada. A maioria está ali porque não tem o que fazer ou porque está querendo fazer caminhada e não queria ir sozinho. Agora, deduzir que São Paulo tem dois milhões de gays, é outra coisa. Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa.
Perguntaram ao Papa João XXIII: Quantas pessoas trabalham no Vaticano?
- A metade , respondeu o papa.
Quando tomei posse na Diocese de Ituiutaba, um repórter da TV local me perguntou: - Qual é sua linha?
- Depende do peixe; peixe grande linha grossa; peixe pequeno, linha fina.
Claro que eu sabia o que o repórter queria saber. Também o Papa entendeu o que a pessoa queria saber. Saiu pela tangente, de um modo inteligente.
Também tem aquela do pescador que, de volta da pescaria, escuta a tradicional pergunta:
- Quantos peixes você pegou? Noventa e nove piaus, foi a resposta.
- Por que você não arredonda para cem? E eu passaria de mentiroso?
“Os números não mentem; mas os mentirosos fabricam números”, deve ter repetido, lá na sepultura, o mineiro Itamar Franco.
Dom Paulo Sérgio Machado - Bispo Diocesano
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